quarta-feira, 14 de maio de 2014

PROJETO RESPEITO ÀS DIFERENÇAS DE GÊNERO

























































PROJETO NA ÍNTEGRA

 
EDUCAR PARA A DIVERSIDADE: ESCOLA PROMOTORA DE IGUALDADES DIANTE DAS DIFERENÇAS DE GÊNERO

Relatório desenvolvido pelos docentes da E.E.B. Santa Catarina descrevendo prática inclusiva sobre sexualidade a partir de artigo já publicado em 2010, quando iniciaram os trabalhos na escola.


SÃO FRANCISCO DO SUL
AGOSTO DE 2013


SUMÁRIO



1 JUSTIFICATIVA................................................................................................................. 4

2 OBJETIVO GERAL........................................................................................................... 5
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................... 5

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS................................................................................... 5
3.1 RELATO DE PRÁTICA EDUCATIVA PARA TRABALHAR O TEMA HOMOSSEXUALIDADE NA ESCOLA.................................................................................................................................. 5

4 ASPECTOS TEÓRICOS.................................................................................................. 8
4.1 MANIFESTAÇÕES HOMOSSEXUAIS NA ESCOLA E O PAPEL DO PROFESSOR NESTE CONTEXTO............................................................................................................................ 9
4.2 ASPECTOS HISTÓRICOS......................................................................................... 11
4.3 ASPECTOS CIENTÍFICOS........................................................................................ 12
4.4 ASPECTOS LEGAIS................................................................................................... 15

5 RESULTADOS ALCANÇADOS.................................................................................. 16
5.1 POTENCIAL DE IMPACTO........................................................................................ 16
5.2 RESULTADOS IMEDIATOS...................................................................................... 16
5.3 PERSPECTIVAS DE CONTINUIDADE E SUSTENTABILIDADE DO TRABALHO  17

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 18

7 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 19

ANEXOS.............................................................................................................................. 21
1 FOTOS DOS TRABALHOS JÁ REALIZADOS........................................................... 22
2 IMAGEM DA PÁGINA DE PUBLICAÇÃO DO ARTIGO NO CICPG....................... 27
3 SLIDES DE APRESENTAÇÕES DO ARTIGO PUBLICADO.................................. 28


1 JUSTIFICATIVA

            Este relato contempla experiências educativas na Escola de Educação Básica Santa Catarina, da rede Estadual de Ensino, de São Francisco do Sul/SC. A escola conta com cerca de 800 alunos das mais diversas realidades socioculturais e econômicas atualmente e vem desenvolvendo tais práticas desde 2010 a partir de iniciativa das aulas da professora de Biologia seguida pelos professores de história e sociologia e eventualmente pelos demais professores das demais disciplinas como tema transversal obrigatório de acordo com o PPP – Plano Político Pedagógico da instituição, publicado no blog eebsantacatarinasfs.blogspot.com.br.
            De fato a Educação Sexual é um dos Temas Transversais propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, com a indicação de que deva ser trabalhado por todas as disciplinas. Entretanto, há muitos educadores que não se sentem confortáveis para tratar este assunto com seus alunos, muito menos na especificidade da homossexualidade. Tal desconforto se dá pela falta de informação que os expõe da sua fragilidade em relação ao tema, o que põe a perder sua naturalidade da docência.
A homossexualidade, bem como suas variantes, constituem assunto velado no ambiente escolar uma vez que ferem conceitos e pré conceitos, tanto aos alunos, quanto aos professores que ainda mantém postura conservadora sobre essa questão.
            Estas práticas geraram, na época, um artigo apresentado na semana da Diversidade em Joinville em 2010 e apresentado e publicado com o título: “Homossexualidade na escola: concepções, variantes e orientações para a a prática educativa de respeito às diversidades”.  Escrito pela Professora de Biologia, Drª Edilene Soraia da Silva e apresentado no I Congresso de Iniciação Científica de Pós graduação, também em 2010 (disponível em: http://www.udesc.br/arquivos/portal_antigo/Seminario20/comunicacao_oral_biologicas.pdf#page=223) propondo-se a oferecer aos docentes da Educação Básica, material explicativo sobre a homossexualidade como fenômeno biológico natural que ocorre também nos seres humanos.


2 OBJETIVOS GERAIS
Do artigo original:
Promover a cultura do respeito à diversidade sexual na escola e na sociedade.
Deste projeto da escola:
Promover a transformação cultural pela não violência e pelo respeito às diversidades de gênero na sociedade.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
·         Refletir teórica e cientificamente sobre aspectos da diversidade sexual e da homossexualidade como fenômeno natural nos seres vivos;
·         Apontar as leis e documentos de garantia de direitos aos homossexuais e demais gêneros humanos;
·         Descrever experiência de sucesso para a Educação Sexual sobre homossexualidade na escola com alunos do Ensino Médio.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
            Diante das manifestações tanto homossexuais quanto heterossexuais entre crianças e jovens no ambiente escolar, percebeu-se a necessidade de desenvolver um trabalho para que os educandos pudessem compreender melhor não apenas o comportamento dos que se expunham nestas práticas pelos corredores e pátio da escola, mas também daqueles que se manifestavam preconceituosos e rejeitavam o convívio com os colegas nesta situação.

3.1 RELATO DE PRÁTICA EDUCATIVA PARA TRABALHAR O TEMA HOMOSSEXUALIDADE NA ESCOLA
            A educação para a diversidade deve ser promovida em todos os aspectos e pelos profissionais de todas as áreas. Assim, a prática se dá em uma escola de Ensino Médio e também no Curso do Magistério, a partir de pesquisa em grupos dentro das diversas áreas de ensino e anos de estudos. Os trabalhos contemplam o assunto inserido nos conteúdos curriculares das próprias disciplinas, facilitando a abordagem e justificando sua necessidade e seus objetivos.
            Entre os temas distribuídos aos alunos, a homossexualidade é apenas mais um entre outros, tirando o foco exclusivo do assunto, generalizando-o já como um tema naturalmente interessante para discussão e compreensão como na tabela a seguir:
DISCI-PLINAS
PROF.
CONTEÚDOS
METODOLOGIA
BIOLO-GIA
Edilene
Homossexualidade como fator genético nos seres vivos, paralelamente aos estudos de clonagem, transgenia, inseminação artificial, biotecnologia, células tronco, etc.
1. pesquisa do tema específico no laboratório de informática;
2. montagem de resumo fundamentado com citações e explicações de textos exclusivamente científicos;
3. preparação de slides para apresentação em datashow ou cartazes contendo só os itens: identificação do grupo, tema, tópicos e imagens, sem muitos textos, pois construirão a apresentação em suas falas, a partir dos textos lidos na confecção do resumo durante a pesquisa, garantindo a leitura e posterior compreensão dos textos lidos;
METOD. ENS. DE CIÊN-CIAS
Edilene
Manifestação sexual na infância e na pré adolescência, na escola, nos movimentos sociais históricos, nos animais e bullyng homofóbico entre as crianças.
São realizadas oficinas de construção coletiva de cartazes para debate e reflexão;
Também produzem teatro de bonecos, maquetes, cartazes, etc. abordando os temas.
EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE
Edilene
Leis de direitos aos homossexuais, respeito às sete variantes sexuais, estigma e identidade sexual, relação: etnia, cultura e sexualidade.
A mesma usada em biologia e Metod. Ens. De Ciências e na forma de debates
SOCIOLOGIA
Edilene, Pablo
O tema entra como uma variante de gênero e de grupo social. Processo de socilização no desenvolvimento da personalidade da criança que nasce sem preconceito.
Debates no pátio, produção de cartazes, redação e trabalhos de pesquisa.
FILO-SOFIA
Renato
Separação corpo e alma na Idade Medieval. As consequências do “cógito” cartesiano e a desvalorização do corpo. O corpo fala. Pena de morte à homossexualidade em países do mundo  (bioética). Natural x cultural: as imposições culturais ao propriamente natural. Liberdade: ser eu mesmo.
Trabalhos de apresentação em equipe, pesquisa de vídeos na internet, debates em sala de aula, pesquisa de campo, entrevistas, aulas expositivas.
HISTÓ-RIA
Orides
Gênero no mundo antigo. A mulher no Egito, Grécia e Roma. Homoerotismo na Grécia Clássica e no Império Romano. Sexualidade no mundo clássico. A mulher no Brasil colônia. Preconceito na atualidade relacionado aos homossexuais no Brasil. Projeto chamado “Cura Gay”. Inserção da mulher no mercado de trabalho e na política. Abuso sexual das mulheres indígenas e africanas no Brasil colônia. Conquista de direitos LGBT.
Análise de imagens (obras de arte); Estudo crítico de textos historiográficos; Pesquisa no blog História e Sociedade; Produção de textos em pequenos grupos; Discussão sobre a propaganda veiculada pela mídia; Debates a partir de questões-problema.
MATE-MÁTICA
Eder
Pesquisa interclasse e tratamento estatístico sobre gravidez e sexualidade na adolescência e sobre o bullyng na escola. O objetivo dos  trabalhos apresentados pelos alunos  são  informar e conscientizar todos os envolvidos  no processo sobre a importância de cada tema abordado.  Utilizar a estatística para trabalhar temas transversais é de extrema importância para orientar nossos jovens das conseqüências de atitudes negativas que cada um pode cometer sem refletir quais serão as conseqüências, se tratando de bullyng e sexualidade na adolescência (DST’s e gravidez).
Os alunos saem pela escola fazendo entrevistas pré elaboradas em sala com objetivo de comparação estatística quantitativa e qualitativa das diversas respostas.
QUÍMI-CA
Mara
Homossexualidade e o metabolismo cerebral, envolvendo a monoamina  5-hidroxitriptamina (5-HT) ou serotonina,  molécula envolvida na comunicação entre os neurônios e vinculada estreitamente com a excitação e as emoções que provocam  a atração erótica.
  1. Pesquisa orientada e produção de resumo científico em relação aos estudos acerca do tema.
Debate das questões envolvem o tema  a partir dos resumos produzidos pela turma.
            O trabalho tem se mostrado muito produtivo e a metodologia se dá com passos bem marcados para sua execução em cada disciplina conforme predisposição e práxis de cada educador envolvido.
            Em geral os grupos devem formular perguntas e contribuições verbais para debate ao término das apresentações de cada equipe e ao final de todas as apresentações, ocorre ainda um trabalho de estudo dirigido elaborado pelos professores sobre pelo menos uma questão extraída das apresentações de cada equipe, considerando a relevância do resgate da reflexão em cada tópico, para verificar se os principais conceitos foram realmente compreendidos.
            Não há mistério em se trabalhar o tema desde que os professores realmente estejam dispostos a aprender junto com seus educandos, a partir das novidades que estes trarão das últimas pesquisas científicas disponibilizadas em larga escala na internet e das revelações a partir das entrevistas com seus pares.

4 ASPECTOS TEÓRICOS
            A homossexualidade apenas para a espécie humana é um tema polêmico uma vez que é natural o sentimento de individualidade de identidade que os estudos antropológicos esclarecem, porém, não se pode apoiar tal estudo apenas em aspectos comportamentais ou histórico-culturais uma vez que estes podem ser muito subjetivos e igualmente questionáveis.
            Assim, a escolha do tema se dá pela urgência em divulgar, conhecer e esclarecer algumas das últimas pesquisas que a ciência vem revelando acerca da homossexualidade entre os seres vivos, inclusive o ser humano, pois a partir da tomada de consciência a respeito das implicações condicionantes biológicas torna-se possível a reflexão com seriedade sobre o assunto, justificando a proposta do trabalho como necessário ao melhor convívio social entre as diversidades de gênero.
            A homossexualidade tratada com tal enfoque permite superar séculos de injustiças cometidas contra pessoas de naturezas diversas e contrárias aos preceitos dogmáticos e moralistas da sociedade humana, enfoque este tão emergente quanto os demais problemas de ordem identitária, como as questões do racismo, do antisemitismo, do especismo, do sexismo, entre tantas barbáries que se comete por não aceitar o que fuja ao pré concebido pela educação tradicional e castradora, principalmente por parte de alguns segmentos da sociedade patriarcal conservadora e também religiosa nesta questão. Desde os últimos escândalos sexuais desvelados constantemente pela mídia, ambos mostram seu caráter hipócrita diante da sociedade, pois praticam o oposto do que se prega e oculta nos interiores dos lares tão tradicionais e templos tão sagrados.

4.1 MANIFESTAÇÕES HOMOSSEXUAIS NA ESCOLA E O PAPEL DO PROFESSOR NESTE CONTEXTO
           
À medida que o tempo passa, as manifestações sexuais na escola se tornam cada vez mais freqüentes e já quase se igualam entre meninos e meninas. Isso talvez se dê pelo fato de terem hoje maior liberdade para expressarem os sentimentos e a contribuição da própria mídia, com exposições diárias de personagens homossexuais, que conquistam o público por sua originalidade e demonstram serem pessoas normais, assemelhando-os a qualquer outro ser humano heterossexual em termos de vida, respeito, luta, caráter, cidadania, etc.
Na escola, entretanto, as pesquisas apontam como um incômodo as manifestações homossexuais entre os alunos, que são considerados fora da norma de conduta sexual adequada, tanto que ainda se utilizam do termo “heteronormatividade”, o qual resume esse conjunto de atitudes preconceituosas e compulsórias perpetuando séculos de discriminação (PINHEIRO, 2009).
Na revista Nova Escola (2009), foi publicada matéria que diz que no dia-a-dia da escola, uma das situações mais incômodas é a manifestação exagerada da homossexualidade, "assumir uma postura de enfrentamento é uma tática de reação muito comum do jovem, que pode se dar por meio de atitudes como afinar a voz, rebolar (se menino) ou agir de maneira bem agressiva e engrossar a fala (se menina)", descreve Lúcia Facco, doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e estudiosa do assunto. Em outra parte, Ramirez Neto, da ONG Corsa diz que "quem chama a atenção dessa forma está defendendo seu jeito de ser, da mesma maneira que o faria um aluno esquerdista que vai à aula vestindo uma camiseta com a estampa de Che Guevara".
Michel Foucault (1997, p.130), já descrevia a teoria de Menelau sobre o beijo dos rapazes como não nascido da arte, mas da natureza. O que nos revela que falar de sexualidade constitui entre os iniciantes à vida sexual uma questão urgente de saúde muito maior do que moralismos que revelam sua ineficiência desde que a humanidade existe, pois adolescentes já se casavam muito cedo para que as famílias não corressem o risco de que aparecessem grávidas de repente. Na verdade, a natureza humana, sempre falou mais alto quando o assunto é sexo e a razão só poderá modificar a sociedade para o sexo seguro, com muito diálogo e informação, sem preconceito e com consciência das consequências naturais do sexo irresponsável, que muitas vezes é a prática comum entre adolescentes homossexuais tanto pelo comportamento de afronta como de exclusão que o leva à desinformação.
Ninguém se sente ofendido ao falar de sistema nervoso ou digestório, mas se o assunto é sistema reprodutor, logo os risinhos e maledicências surgem provocando rubores e muita curiosidade e interesse. Isso porque é de fato um assunto que foi proibido por muito tempo entre as pessoas, mas que oferece um prazer que os outros sistemas não oferecem, mesmo que sejam sem os riscos de consequências como as DST ou uma gravidez indesejável. E por isso é que foram tão proibidos no passado. Mas hoje com os preservativos e anticoncepcionais, não há mais tanta preocupação neste sentido e a juventude compreende que o prazer do sexo está relacionado mais às formas de convívio e relações afetivas do que para a pura reprodução.
E quando o professor é gay? Muitos preferem não explicitar sua sexualidade e isso evita discriminações não só pelos colegas, mas pelos alunos e pelos pais dos alunos. Há casos de professores que têm seus empregos ameaçados, entretanto, há muitos que se assumem e demonstram competência em sua prática pedagógica, demonstram que o resultado pode ser de clareza e respeito na relação professor-aluno. Entretanto se o professor sentir-se discriminado isso pode afetar seu desempenho e seu relacionamento no trabalho de modo muito prejudicial ao processo ensino-aprendizagem.
Discriminação no ambiente escolar sob qualquer aspecto é lamentável, constitui crime previsto em diversas leis e estatutos da constituição brasileira e o que falta é que se prepare o professor já desde a formação em nível de curso normal ou magistério ou de graduação para ser um profissional desvestido de seus preconceitos.
Não é direito de ninguém discriminar, mas é direito de todos não ser discriminado. "O professor tem de entender que não vai mudar a orientação sexual de um jovem, mas tem como despertar na turma o respeito pela diversidade sexual", aconselha Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, especializado em Educação e sexualidade (Nova Escola, 2009).
A escola toda deve ser trabalhada para uma educação realmente inclusiva, não apenas em relação à educação de portadores de necessidades especiais, mas nos mais diversos aspectos de diferenças trazidas dos contextos sócio-político-econômico dos educandos, incluindo as diferenças de gênero.

4.2 ASPECTOS HISTÓRICOS
            A homossexualidade entre humanos é muito antiga, no passado remoto era praticada com naturalidade como forma de socialização, e depois, como prática de satisfação sexual simplesmente.
            Na Idade Média, passou a ser considerada como ato pecaminoso e de repúdio, com penalização das mais cruéis às pessoas que fossem identificadas como homossexuais, gerando todo tipo de tortura, discriminação e até a condenação à morte.
            Tais acontecimentos não se limitavam à sociedade comum, entre os cientistas houve também testes para tentar corrigir o problema com técnicas de eletro choques e até mesmo de lobotomia[1], realizada por Egaz Moniz, em 1935, ganhador do prêmio Nobel em psiquiatria de intervenção, mesmo tendo levado alguns pacientes a óbito.
Houveram várias passagens na história de distorção dos conceitos em função da falta de tecnologia e conhecimento para compreender os aspectos que levam o indivíduo à prática da homossexualidade. Entretanto muitos estudiosos interessaram-se em compreender primeiramente o que era considerado como um “desvio sexual, uma inversão do masculino e do feminino” (WESTPHAL, 1870), o que hoje já acena para a aceitação sem tanta resistência quando se trata o assunto na escola.
Atualmente o grande problema da homofobia leva à prática de assassinatos que chegam nos últimos vinte anos ao absurdo número de 2.403 gays mortos (REVISTA MÁTRIA, 2008, p. 16). Esta prática além de violenta e criminosa demonstra a intolerância da sociedade que agora conta com diversos programas criados pelo governo federal para mudar esta situação no Brasil.

4.3 ASPECTOS CIENTÍFICOS
Entre a Homossexualidade, a heterossexualidade ou a bissexualidade, mesmo os estudos mais sérios foram mudando de foco ao longo da história, conforme o que se compreendia segundo os preceitos de cada época, cometendo inclusive alguns desacertos como o uso da palavra “homossexualismo” que já desde a década de 70 foi modificada para “homossexualidade” pela Organização Mundial da Saúde – OMS. Isso graças aos estudos desenvolvidos pelas Associações Americanas de Psiquiatria e de Psicologia, pois o sufixo “ismo” se dava por considerar a prática homossexual uma doença, o que hoje se sabe que não o é. No Brasil também foi modificado em 1985, pelo Conselho Federal de Psicologia, o que iniciou um processo de transformação social para a aceitação e legalização dos direitos aos homossexuais.
Vale lembrar que o termo “homossexualismo” foi criado em uma época de pouca informação com conhecimento puramente empírico e sem fundamentação real, diferentemente da atualidade em que já há recursos científicos tecnológicos sofisticados para um estudo mais aprofundado.
Entretanto ainda é comum observar mesmo nos programas de jornalismo da atualidade a desatualização sobre o termo que continua sendo veiculado como um sinônimo, o que ainda causa o desconforto sobre o assunto aos desinformados e reforça de certo modo, o preconceito que ainda se mantém vivo no cotidiano escolar. Mesmo que mais amenizado pelos processos educativos de inclusão social.
            De fato o preconceito pressionou a ciência atrasando seus avanços, desde a falta de colaboração dos demais acadêmicos para o livro de Bagemihl (1979), no qual descreve os estudos sobre 450 espécies de animais que praticam a homossexualidade e na sua busca encontrou inclusive relatórios feitos pela marinha americana vetados, sobre comportamento homossexual em baleias.
Tal relatório foi vetado pelos militares e só muito depois foi descoberto pelos pesquisadores e nesta busca por informações, muitos outros relatórios e estudos trouxeram ideias novas para melhor compreensão da prática homossexual não apenas em humanos, mas também em diversas espécies animais desde grupos mais simples aos mais desenvolvidos.
Em 1987, o biólogo americano W.J. Tennent publicou um artigo intitulado "Nota sobre a Aparente Queda dos Padrões Morais da Lepidoptera". Após descrever o homossexualismo das borboletas do Marrocos, afirmou: "Talvez seja um sinal dos tempos o fato de a literatura entomológica estar no caminho da decadência moral e das ofensas sexuais". O cientista achou imoralidade em borboletas (BURGIERMAN, 1999).
Os estudos etológicos sobre a homossexualidade entre os animais revelam que esta prática na natureza constitui importante mecanismo de controle populacional, entre outros fatores de socialização. Isto nos remete a refletir sobre tal mecanismo também sobre a espécie humana, pois é fácil imaginar se todos os humanos fossem heterossexuais, reproduzindo-se ao longo dos milhões de anos que habitam o planeta, estaríamos provavelmente com uma população imensamente maior a explorar os recursos naturais, e quiçá até, já estivéssemos à beira da extinção pelos danos muito maiores que já teríamos provocado ao meio ambiente.
Pensando no excesso populacional, poderia contestar-se que a necessidade de reduzir drasticamente o índice de natalidade invalida qualquer crítica biológica dos grupos não reprodutores, como os frades e as freiras, os solteirões e solteironas e os homossexuais per­manentes. Está certo, numa base puramente reprodutiva, mas não se tomam em consideração outros problemas sociais que, em certos casos, esses grupos têm de encarar, por se tratar de minorias espe­ciais e isoladas. No entanto, desde que sejam membros valiosos e ajustados da sociedade, além da esfera reprodutiva, podem mesmo encarar-se como valiosos contribuintes para a limitação da nata­lidade (MORRIS, 1993, p. 74).
Se a reprodução existe para a perpetuação da espécie, mais ainda reforça a importância da homossexualidade, uma vez que no ambiente familiar, são justamente os irmãos homossexuais os que primeiramente se ocupam dos ofícios de auxiliar a mãe com os afazeres domésticos e de cuidados com os irmãos, garantindo assim, que através da reprodução destes, assegurada pelos seus zelos, seus genes igualmente são transferidos às novas gerações de sua família.
Há ainda vários outros estudos interessantes descritos como o feito com células do hipotálamo, região das emoções no cérebro humano, que em autópsias se revelaram menores tanto em homens quanto em mulheres homossexuais (LEVAY, 1991).
Há outros como dos psicólogos Michael Bailey e Richard Pillard (1998), que analisaram 110 pares de gêmeos idênticos, que mesmo tendo sido criados separados, 70% desenvolvem a mesma sexualidade seja hetero ou homossexual, e nos estudos de Thomas Bouchard, cerca de 8 mil gêmeos estudados, também criados separados, este índice sobe para 82% (OLIVEIRA, 1998).
Entre os mais recentes, os estudos de Dean Hamer (1993), publicado por uma das mais renomadas revistas científicas, a Science, sobre as incidências de homossexuais entre familiares de ordem paterna e de ordem materna e sobre os genes do cromossomo X, na região q28, que poderiam indicar sequencias de DNA semelhantes entre homossexuais. Embora seus estudos sejam contestados acerca do tal “Gene Gay”, como foi intitulado. Outros estudos genéticos também apontam que os genes podem sim influenciar em cerca de 40% na determinação da sexualidade, conforme afirma Bocklandt quando diz que "a melhor maneira de ver que a homossexualidade é genética é ver que a heterossexualidade é genética” (In NOGUEIRA, 2010).
Em junho de 2008, foi publicado um estudo na Suécia que constata que o cérebro dos homossexuais funciona de modo invertido em relação aos heterossexuais.  Este foi um dos estudos mais importantes da atualidade, pois revela a característica biológica desta natureza humana. Os estudos puderam ser comprovados pela equipe de Ivanka Savic, do Instituto Karolinska, a partir de ressonância magnética em voluntários hetero e homossexuais (VIEIRA, 2008).
Somados aos outros tipos de estudos, os de ordem genética demonstram que a homossexualidade pode passar a ser compreendida não mais como uma opção, mas sim como uma condição sexual do indivíduo, o que muda toda a perspectiva sobre a educação e os direitos aos homossexuais.
Segundo Nogueira (2010), pode-se resumir que a ciência vem estudando e contribuindo de diversas formas para a compreensão do comportamento homossexual revelando resultados estatísticos relativos a fatores como:
         Mães de gays costumam ser mais férteis, portanto têm mais filhos, o que leva a um aumento de homossexualidade entre irmãos que têm mais irmãos heterossexuais;
         A ordem de nascimento é outro fator que pode levar à influências como a ação hormonal e anticorpos da mãe a atacar o feto masculino, afeminando-o;
         Estruturas cerebrais como a diminuição do hipotálamo;
         Rede moinhos no cabelo de homossexuais, em geral no sentido anti horário;
         Canhotos costumam ter maior chance de serem homossexuais do que destros;
         A relação entre dedos anelar e indicador que costumam ser mais próximos entre mulheres homossexuais;
         O tom de voz do homossexual costuma ser facilmente reconhecido por quem ouve mesmo sem ver quem fala ;
         O pensamento espacial; e
         A habilidade para cálculos cresce na ordem mulher hetero, mulher gay, homem gay e homem hetero.
Porém, nenhum desses estudos é conclusivo e ainda há muito a se descobrir e conhecer, pois apesar de toda a modernidade, ainda há muita força contrária que leva os cientistas a desistirem de seus projetos de pesquisa pela pressão social, principalmente em países como os EUA, de grande comunidade religiosa.

4.4 ASPECTOS LEGAIS
            Desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) se busca a igualdade de direitos entre as pessoas, mas esta ainda não dá poderes legais na grande maioria das nações do mundo que são regidas por leis e códigos de conduta discriminatórios até a atualidade.
No Brasil, a constituição garante vários direitos fundamentais às pessoas independente de seu gênero sexual. Porém o Estado de São Paulo é o mais avançado com Lei específica já em vigor, a Lei Nº 10.948, sendo o estado que possui maior índice populacional no país.
            Há ainda vários outros projetos de leis tramitando nas câmaras e congressos das esferas municipais, estaduais e federal, além de jurisprudência sobre direitos a respeito de adoção de crianças e herança patrimonial para casais gays sólidos. A  união estável já foi legalmente aprovada em vários estados brasileiros, compreendida como um casamento, entre homossexuais.
Hoje já existem vários países no mundo que aprovam o casamento homossexual, o que encurta muitas disputas judiciais. Entretanto há ainda muita discriminação como foi televisionado no domingo de 25 de abril de 2010, no programa Fantástico da Rede Globo, sobre países africanos que, em pleno séc. XXI, ainda impõem a pena de morte aos homossexuais.

5 RESULTADOS ALCANÇADOS
Desde 2010, quando iniciou-se o trabalho, observa-se mudança clara no sentido da compreensão da necessidade do respeito ao próximo como obrigação e direito de todos no convívio escolar. Obviamente é um trabalho incessante, haja vista que a escola hoje tem apenas jovens de Ensino Médio e os novos ingressantes, oriundos de outras escolas, muitas vezes chegam com sentimentos confusos gerados pelo preconceito social.

5.1 POTENCIAL DE IMPACTO
O corpo docente diante deste trabalho conjunto almeja atingir a toda a comunidade escolar, pois reconhecer a homossexualidade como uma condição humana já é um grande passo para que o respeito à diversidade de gênero seja mais uma etapa rumo a uma sociedade justa e liberta de preconceitos. Os estereótipos sobre os indivíduos que são marginalizados neste contexto aumentam os conflitos por causa dos sentimentos aprendidos no meio social de repulsa aos homossexuais, vistos erroneamente, há tempos como pessoas despudoradas.

5.2 RESULTADOS IMEDIATOS
É inegável a grande parcela de pessoas homossexuais na sociedade brasileira e mundial, que hoje representam novas categorias sociais em amplos aspectos culturais e tecnológicos de cunho profissional, comercial, de mercado, de consumo, de educação, moda, etc. O Brasil justamente por seu histórico de grande miscigenação desde sua colonização, mais do que qualquer outro país, tem obrigação de constituir-se nação soberana de igualdade.
Na escola também o índice de manifestações homossexuais é nitidamente mais alto em relação há pouco tempo atrás em que as pessoas eram reprimidas de seu comportamento sexual mesmo na heterossexualidade, quanto mais na homossexualidade.
Sem dúvida é um trabalho que atinge a todos os seguimentos da comunidade escolar de modo direto ou indireto, uma vez que os alunos são trabalhados nestas questões em sala e depois difundem os novos paradigmas conceituais aprendidos em seus lares e espaços de convívio social tornando-se multiplicadores para a mudança deste novo paradigma sexual.

5.3 PERSPECTIVAS DE CONTINUIDADE E SUSTENTABILIDADE DO TRABALHO
            A garantia de continuidade do trabalho se dá primeiro pela inserção do projeto no PPP (Plano Político Pedagógica) da escola, disponível à toda comunidade no blog já citado, seguido pela sua publicação e atualização anual nas reuniões pedagógicas, levando inclusive aos familiares e novos alunos e docentes da instituição, o conhecimento de sua prática como fundamental e como exigência nos conteúdos curriculares.
Sua sustentabilidade no formato que está não requer investimentos além dos recursos pedagógicos habituais, porém, com a perspectiva de futuramente a escola ser contemplada com o prêmio do concurso, pretende-se investir em materiais pedagógicos pertinentes ao tema para aprofundamento e execução de Feira Cultural para promoção da Educação para a Diversidade, aberta a toda comunidade do município de São Francisco do Sul/SC.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de marginalização na sociedade atual, desde a década de 60, originados nos movimentos hippies, onde os homossexuais afrontaram a sociedade com atos de escandalização e banalização do sexo, nada mais retratou do que um comportamento de auto afirmação sobre sua condição e sua existência. Não cabe à sociedade julgar nem mesmo punir as pessoas pela sua condição, opção ou situação sexual, como se queira interpretar, mas sim compreendê-las para então inseri-las com igualdade e respeito, assim, fica mais simples e harmônico o convívio entre as pessoas no ambiente escolar e em toda a sociedade.
            Crianças e jovens são influenciados com mais facilidade do que adultos, por isso é papel da escola mostrar a eles que os preconceitos que aprenderam podem e devem ser modificados enquanto sentimento de discriminação, que lhes coloca em situação de atraso cultural, diante de uma sociedade moderna, com perspectivas de se tornar referência mundial como um país de igualdades.

6 REFERÊNCIAS
BAGEMIHL, Bruce. Biological exuberance - Animal Homosexuality and Natural Diversity. St. Martin´s Press, New York, 1999.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasilila: MEC/SEF, 1998.
BURGIERMAN, Denis Russo. Ação entre iguais. Revista Superinteressante. Vol. 143, São Paulo: Abril, agosto, 1999.
CRUZ, Jaquelyne. Diferenças cerebrais entre homens e mulheres. Disponível em: http://www.dsc.ufcg.edu.br/~pet/jornal/marco2009/materias/saude.html Acesso: 31 jul. 2010.
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA SANTA CATARINA. Plano Político Pedagógico. 2013.
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA SANTA CATARINA. Blog de documentos da escola. http://eebsantacatarinasfs.blogspot.com.br/
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA SANTA CATARINA. Blog de arquivo digital da escola. http://eebsantacatarinaarquivodigital.blogspot.com.br/
FOUCAULT, Michel. A mulher / os rapazes: história da sexualidade. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
GADBEM, Maurício. A orientação afetivo-sexual segundo a ciência. Disponível em http://www.pailegal.net/fatpar.asp?rvTextoId=254481760. Acessado em 11/08/2009.
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